O futebol argentino é repleto de histórias emocionantes, mas poucas se comparam ao feito do Club Atlético Platense em 2025. Pela primeira vez em 120 anos, o modesto clube de Vicente López pode finalmente se orgulhar de um título nacional: campeão do Torneio Apertura. A conquista veio com uma vitória por 1 a 0 sobre o Huracán, coroando uma campanha memorável e cheia de reviravoltas. É uma história que mistura tradição, superação, humildade e inovação — tudo em uma só temporada.
Raízes humildes e origens peculiares

Fundado em 1905, o Platense surgiu de uma forma inusitada: após uma aposta certeira em um cavalo. Um grupo de jovens apostou em um puro-sangue no Jockey Club e, com o prêmio, decidiram fundar um clube de futebol. O nome Platense homenageia o haras do cavalo vencedor, enquanto o marrom e o branco das cores do clube vêm do uniforme do jóquei.
Apesar de sua longa existência, o clube nunca havia conquistado um título nacional. Chegou perto em 1916, durante a era amadora, quando foi vice-campeão atrás do Racing. Desde a década de 1940, não figurava entre os três primeiros colocados do Campeonato Argentino. O Platense sempre foi um time simpático, mas distante dos holofotes — até agora.
O formato do torneio e a virada histórica
Com o retorno do formato de Torneios Apertura e Clausura em 2025, o campeonato foi dividido em dois grupos de 15 times. Oito de cada grupo avançaram para o mata-mata. O Platense caiu no difícil Grupo B, enfrentando gigantes como River Plate, Independiente, Rosario Central e San Lorenzo. Classificou-se em sexto lugar, com 20 pontos, garantindo uma vaga apertada, mas suficiente para a fase decisiva.
A ousadia de comandar com dois técnicos
Um dos elementos mais curiosos e decisivos da campanha histórica do Platense foi a comissão técnica comandada por dois treinadores: Favio Orsi e Sergio Gómez. A parceria, que começou ainda em 2011 como auxiliares do modesto Fênix, mostrou que o futebol pode, sim, ser reinventado.

Divulgação: Platense/RodrigoValle
“Somos diferentes, nos complementamos. Nós nos conhecemos de cor”, afirmou Orsi. Gómez completou: “O mais importante é que deixamos o ego de lado. Isso nunca superou a nossa humildade.”
Sem um “técnico principal” definido, os dois dividem funções e responsabilidades em total sintonia. Embora Gómez seja o porta-voz nas coletivas, ambos aparecem juntos à beira do gramado, guiando o time como uma verdadeira dupla.
Gigantes caíram diante da zebra
Na fase final, o Platense protagonizou uma sequência impressionante ao eliminar pesos-pesados do futebol argentino. Nas oitavas, despachou o Racing, atual campeão da Copa Sul-Americana e da Recopa. O gol salvador de Orsini, aos 39 minutos do segundo tempo, foi o primeiro sinal de que algo grandioso poderia acontecer.
Nas quartas, a missão parecia ainda mais impossível: enfrentar o poderoso River Plate, no Monumental de Núñez. Taborda, emprestado pelo Boca Juniors, abriu o placar, e o River empatou com um polêmico pênalti. A arbitragem foi muito criticada, principalmente por uma falta não marcada no início da jogada do gol do River. O Platense, porém, mostrou sangue frio e eliminou o rival nos pênaltis, com duas defesas decisivas e uma atitude marcante do capitão Ignacio Vázquez, que sequer olhou para o árbitro na disputa de cara ou coroa.
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Na semifinal, mais um desafio: o tradicional San Lorenzo. Em mais um jogo intenso, Zapiola marcou o gol da vitória e colocou o Platense na grande final.

O dia do título: emoção, suor e um golaço
No domingo da final, o Platense encarou o Huracán em Santiago del Estero. O primeiro tempo foi equilibrado, com leve superioridade do Huracán na posse de bola, mas o Platense foi mais perigoso nas finalizações.
Foi no segundo tempo que veio o momento mágico. Após uma cobrança de falta na área, Mainero pegou de primeira com o pé esquerdo e acertou um lindo chute, sem chances para o goleiro Gallíndez. O gol do título, o gol da glória.
Ao apito final, jogadores, comissão técnica, dirigentes e torcedores se entregaram à emoção. Lágrimas escorriam no rosto dos técnicos Orsi e Gómez, que representaram a humildade e a dedicação de todos os que vestem marrom e branco.
Um novo campeão, uma velha paixão
Com essa conquista, a Argentina celebra um campeão inédito. O Platense, antes coadjuvante, agora escreve seu nome na história com letras douradas. O título não foi apenas uma vitória no campo, mas também uma lição de perseverança, coragem e inovação.
A Argentina agora pulsa em marrom e branco. E o futebol, esse esporte tão imprevisível, sorri mais uma vez para quem nunca deixou de sonhar.
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